”I loved the writers who made you look through every line, to gaze downward and feel the vertigo of the depths, the blackness of inferno.”
o meu primeiro livro da elena ferrante e superou todas as expetativas! eu estava a ler e a sentir a minha sanidade a perder-se entre as palavras, houve momentos em que tive que parar porque os acontecimentos começavam a provocar-me tanta ansiedade…. AMEI E RECOMENDO
ELENA YOU WERE INSANE FOR THIS não admira que a pessoa não queira revelar a sua identidade
TRIGGER WARNING: morte de um animal de estimação
quotes preferidas : ─────── ☽ •
And to keep under control the anxieties of change I had, finally, taught myself to wait patiently until every emotion imploded and could come out in a tone of calm, my voice held back in my throat so that I would not make a spectacle of myself.
If I am exposed to ants, I will fight the ants. If I am exposed to thieves, I will fight the thieves. If I am exposed to myself, I will fight myself.
A woman can easily kill on the street, in the middle of a crowd, she can do it more easily than a man. Her violence seems a game, a parody, an improper and slightly ridiculous use of the male intent to do harm.
We are occasions. We consummate life and lose it because in some long ago time someone, in the desire to unload his cock inside us, was nice, chose us among women.
I was not the woman who breaks into pieces under the blows of abandonment and absence, who goes mad, who dies. Only a few fragments had splintered off, for the rest I was well. I was whole, whole I would remain. To those who hurt me, I react giving back in kind. I am the queen of spades, I am the wasp that stings, I am the dark serpent. I am the invulnerable animal who passes through fire and is not burned.
We don't know anything about people, even those with whom we share everything.
I felt something move inside me, a jolt of grief so intense that the tears seemed to me fragments of a crystal object stored for a long time in a secret place and now, because of that movement, shattered into a thousand stabbing shards.
I was like a lump of food that my children chewed without stopping; a cud made of a living material that continually amalgamated and softened its living substance to allow greedy bloodsuckers to nourish themselves, leaving on me the odor and taste of their gastric juices.
I didn't want to run, if I ran I would break, every step left behind disintegrated immediately afterward, even in memory,(…).
His desire had been to skate far away from us on an infinite surface; mine, it seemed to me now, was to go to the bottom, abandon myself, sink deaf and mute into my own veins, into my intestine, my bladder.
I had arrived at the edge of some precipice and now I was falling, as in a dream, slowly, even as I continued to hold the thermometer in my hand, even as I stood with the soles of my slippers on the floor, even as I felt myself solidly contained by the expectant looks of my children.
I had to tear the pain from memory, I had to sandpaper away the scratches that were damaging my brain.
"Stop or I'll cut off your hands," she would say when I touched her dressmaking things. And those words were a pair of long, burnished steel scissors that came out of her mouth, jawlike blades that closed over the wrists, leaving stumps sewed up with a needle and thread from her spools.
How heavy a body that has been traversed by death is, life is light, there's no need to let anyone make it heavy for us.
How could I scrape them definitively off of my body, my mind, without finding that I had in the process scraped away myself?
Flaws of characters a main focus? It's complicated
4.0
lovecraft tecnológico? episódio de black mirror mas com horror cósmico? um absoluto A24 fever dream com um toque de folklore mexicano?
this thing between us foi bastante diferente de tudo o que li e, apesar de não ter percebido o que aconteceu no final, valeu bastante a pena. através dos acontecimentos, moreno fala em temas como o amor, perda e luto, misturando surrealismo, horror e misticismo, de uma forma bastante contemporânea. sendo completamente diferente, fez-me lembrar o livro monstrilio de gerardo sámano córdova.
antes de recomendar esta leitura, só quero deixar um enorme trigger warning para violência contra animais, especificamente um cão. contudo, mini spoiler, talvez não seja bem um cão mas não deixa de ser pesado.
sem dúvida que vou ficar atenta aos próximos lançamentos deste autor e gostava muito de arranjar a cópia física com esta capa que é mesmo perfeita e faz tanto sentido no final!!!
Flaws of characters a main focus? It's complicated
3.5
foi um bom livro para desenjoar de leituras mais pesadas, fácil e rápido de ler. o conceito é diferente do que costumo ler, muito à volta de um mistério, cheio de misticismo, que se vai revelando aos poucos, até chegarmos ao final, onde nos é explicado praticamente tudo.
infelizmente o final estragou-me um pouco a experiência !!!spoiler!!! mas o facto de ter sido um polícia no final a descobrí-lo para mim não fez absolutamente sentido nenhum ….. podia ter sido a Casa a mostrar o caminho, um amigo, um familiar, um amor, ex-amor, a natureza, a energia do universo, o poder da amizade, fé, as marés, as estrelas, uma bola de cristal, a voz interior dentro de cada um de nós, os antepassados, QUALQUER OUTRA COISA FAZIA MAIS SENTIDO QUE UM POLÍCIA!!! PELO AMOR DE DEUS !!
tirando isso recomendo na mesma porque é muito pequeno, a leitura é fácil e no final temos quase todas as respostas.
se andam à procura de um livro com os jonas brothers mortos num trágico acidente de carro, um pénis que ganha sapiência e começa a falar, a dolly parton mas homem, cães com cirurgias estéticas, ódio vigoroso a crianças, representação de rimming com direito a um festival inteiramente dedicado à prática excluída do status quo da sociedade e tudo isto com uma pitada de transtornos alimentares, parabéns encontram o livro indicado!
num seguimento muito john waters de mau gosto em bom, liarmouth é uma autêntica montanha russa de acontecimentos insanos que me fizeram rir bastante contudo, a partir do meio do livro, o seu elemento chocante começa a tornar-se um pouco cansativo e sem nexo. a única coisa que me salvou, e que recomendo a todos, foi o facto do audiobook ser narrado pelo próprio john waters que é tão icónico que me fez perdoar toda aquela loucura sem pés nem cabeça.
qualquer fã de john waters tem que ouvir este audiobook, as restantes pessoas…. talvez seja melhor passarem este à frente.
este furacão de mulher está de voltaàs minhas leituras e, apesar de serem 3 contos com apenas +/- 20 páginas cada, a mensagem continua tão profunda e comovente. um mix entre a náusea de jean paul sartre e a sensibilidade feminina de virginia woolf, ainda mais agressiva e crua. uma leitura rápida mas, como é hábito, com algum grau de exigência. super recomendo (talvez um bom ponto de entrada para a obra de lispector) !
"On Saturday night her everyday soul was lost, and how good it was to lose it (...). "— Daydream and Drunkenness of a Young Lady
"She had pacified life so well, taken such care for it not to explode." - Love
"And as if it were a butterfly, Ana caught the instant between her fingers before it was never hers again." - Love
"And for an instant the wholesome life she had led up till now seemed like a morally insane way to live." - Love
"Just when does a mother, holding a child tight, impart to him this prison of love that would forever fall heavily on the future man." — Family Ties
obrigada à netgalley e à editora farrar, straus and giroux, por me darem acesso ao ARC deste livro em troca da minha opinião sincera!
authority, que estará disponível dia 8 de abril de 2025, é uma coleção de ensaios sobre uma vasta paleta de tópicos, tanto atuais como intemporais, da autora andrea long chu, vencedora do pulitzer prize, em 2017.
para mim, o mais interessante deste livro não foi propriamente ver opiniões semelhantes às minhas, articuladas de uma forma muito mais culta e acessível, mas sim refletir sobre os pontos de vista que divergiam dos meus. chu nunca apresenta as suas posições (bastante fortes e polémicas) sem dar um contexto histórico ou académico para as justificar. um excelente equilibrio entre a autoridade da opinião firme e estruturada da autora, com a liberdade para a questionarmos a seguir, através dos recursos e referências mencionados, de forma a construirmos os nossos próprios juizos, de acordo com as nossas convicções.
estes ensaios incluem críticas !!implacáveis!! (que eu amei, mesmo apreciando as obras dos autores) a hanya yanagihara (a little life, to paradise, the people in the trees), ottessa moshfegh(my year of rest and relaxation, lapvona, eileen), bret easton ellis (american psycho, the shards, less than zero), maggie nelson (the argonauts, bluets, on freedom), tao lin (taipei, leave society, trip: psychedelics, alienation, and change), octavia e. butler e zadie smith (white teeth, on beauty, the fraud), acompanhadas sempre de excertos de entrevistas ou factos das suas vidas, que validam a posição de andrea, que por muito negativa possa ser, tenta (na maioria das vezes) ser construtiva.
andrea fala do jogo the last of us e o respetivo sucesso da sua adapatação para a televisão, a série yellowjackets, big little lies e game of thrones, mas não deixa para trás temas como o genocídio em gaza, o império do capitalismo, separar a política da arte, racismo, machismo, feminismo, homosexualidade, assim como as suas reflexões pessoais sobre o seu percurso como mulher transexual. não falta variedade!
alguns dos autores utilizados como referências nos seus argumentos incluem oscar wilde, susan sontag, james baldwin, virginia woolf, hannah arendt, immanuel kant, w. h. auden, valerie solanas, ned block, john searle, samuel johnson, cicero, herbert marcuse, martin luther, thomas hobbes, max weber, david hume, edmund burke, samuel taylor coleridge, matthew arnold, walter pater, irving babbitt, john crowe ransom, harold bloom, adam kirsch, jay caspian kang, celeste ng, ruth ozeki, nella larsen, amy tan, claire stanford, kyle lucia wi, rowan hisayo buchanan, claire kohda, michelle zauner, david foster wallace, cervantes, entre muitos outros.
nada nem ninguém ficam de fora da análise de andrea long chu, uma voz refrescante e cheia de personalidade, que não tem medo de questionar opiniões consensuais, sempre acompanhada de uma pesquisa muito interessante. uma autora que gostei de descobrir nesta coleção e que, sem dúvida, irei acompanhar no futuro. recomendo !!!
english review: ─────── ☽ •
Thank you to NetGalley and the publisher Farrar, Straus and Giroux, for giving me access to this book's ARC in exchange for my honest opinion!
Authority, which will be available on April 8, 2025, is a collection of essays on a wide range of topics, both current and timeless, by author Andrea Long Chu, Pulitzer Prize winner in 2017.
For me, the most interesting aspect of this book was not so much seeing opinions similar to mine articulated in a much more enlightened and accessible way, but rather reflecting on the viewpoints that diverged from my own. Chu never presents her (quite strong and controversial) positions without providing a historical or academic context to justify them. There’s an excellent balance between the firm, structured opinions of the author and the freedom to question them afterward, using the resources and references mentioned to build our own judgments according to our convictions.
These essays include !!relentless!! critiques (which I loved, even while appreciating the works of the authors) of Hanya Yanagihara (A Little Life, To Paradise, The People in the Trees), Ottessa Moshfegh (My Year of Rest and Relaxation, Lapvona, Eileen), Bret Easton Ellis (American Psycho, The Shards, Less Than Zero), Maggie Nelson (The Argonauts, Bluets, On Freedom), Tao Lin (Taipei, Leave Society, Trip: Psychedelics, Alienation, and Change), Octavia E. Butler, and Zadie Smith (White Teeth, On Beauty, The Fraud), always accompanied by excerpts from interviews or facts about their lives that validate Andrea's position, which, no matter how negative it may be, often tries to be constructive.
Andrea discusses the game The Last of Us and the success of its television adaptation, the series Yellowjackets, Big Little Lies, and Game of Thrones, but she doesn’t shy away from themes like the genocide in Gaza, the empire of capitalism, separating politics from art, racism, sexism, feminism, homosexuality, as well as her personal reflections on her journey as a trans woman. She said RANGE!
Some of the authors used as references in her arguments include Oscar Wilde, Susan Sontag, James Baldwin, Virginia Woolf, Hannah Arendt, Immanuel Kant, W. H. Auden, Valerie Solanas, Ned Block, John Searle, Samuel Johnson, Cicero, Herbert Marcuse, Martin Luther, Thomas Hobbes, Max Weber, David Hume, Edmund Burke, Samuel Taylor Coleridge, Matthew Arnold, Walter Pater, Irving Babbitt, John Crowe Ransom, Harold Bloom, Adam Kirsch, Jay Caspian Kang, Celeste Ng, Ruth Ozeki, Nella Larsen, Amy Tan, Claire Stanford, Kyle Lucia Wu, Rowan Hisayo Buchanan, Claire Kohda, Michelle Zauner, David Foster Wallace, Cervantes, among many others.
Nothing and no one is left out of Andrea Long Chu’s analysis, a refreshing voice full of personality that isn’t afraid to challenge consensual opinions, always accompanied by very interesting research. An author I enjoyed discovering in this collection and whom I will undoubtedly follow in the future. Highly recommend!!!
este foi o meu primeiro contacto com a obra de sophia de mello breyner desde a escola primária e a primeira vez a ler a sua poesia. um livro pequenino, que se lê numa manhã solarenga, cheio de luz, memórias, referências a fernando pessoa, dedicatórias a amigos e algum comentário político (pró esquerda e contra a direita). em “o nome das coisas”, andresen tanto me surpreendeu pela positiva, como me desiludiu um pouco.
não deixem que as minhas 3 estrelas vos afastem deste livro. a minha pontuação mais baixa vai para o facto de, em 52 poemas, há alguns que eu achei mesmo maus (talvez não tenha sensibilidade suficiente para os compreender) contudo, há poemas que são excelentes, que guardo com carinho e admiração. no geral, preferia que esta coleção tivesse tido uma curadoria melhor, mas continuo a achar que a qualidade dos poemas bons tem mais valor que o número superior de poemas “”maus””.
os meu poemas preferidos foram: ─────── ☽ •
Guerra Ou Lisboa 72: 4/5 Lagos I: 4/5 Nesta Hora: 5/5 Com Fúria e Raiva: 4/5 A Casa Térrea: 4/5 Caderno I: 4/5 Museu: 4/5 Carta de Natal a Murilo Mendes: 5/5 Regressarei: 4/5 Açores: 4/5 Nestes Últimos Tempos: 5/5
excertos dos meus poemas preferidos: ─────── ☽ •
Meia verdade é como habitar meio quarto Ganhar meio salário Como só ter direito A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade E o resto joga com habilidade Porque pensa que o povo só pensa metade Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
— NESTA HORA
Com fúria e raiva acuso o demagogo E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada Que de longe muito longe um povo a trouxe E nela pôs sua alma confiada
Com fúria e raiva acuso o demagogo Que se promove à sombra da palavra E da palavra faz poder e jogo E transforma as palavras em moeda Como se fez com o trigo e com a terra
— COM FÚRIA E RAIVA
Que a arte não se torne para ti a compensação daquilo que [não soubeste ser Que não seja transferência nem refúgio Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja A verdade do teu inteiro estar terrestre
— A CASA TÉRREA
Como eu só o via nessa quadra do ano Não vejo a sua ausência dia-a-dia Mas em tempo mais fundo que o quotidiano
Descubro a sua ausência devagar Sem mesmo a ter ainda compreendido Seria bom Murilo conversar Neste dia confuso e dividido
Hoje escrevo porém para a Saudade - Nome que diz permanência do perdido Para ligar o eterno ao tempo ido E em Murilo pensar com claridade -
— CARTA DE NATAL A MURILO MENDES
Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo — de seu Viscoso gozo da nata da vida— que diremos De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos de sua sábia e tácita injustiça Que diremos de seus conluios e negócios E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita Degradação da vida que a direita pratica?
mais uma leitura melancólica e depressiva do meu amigo mário de sá carneiro, agora em poesia. achei um texto bastante acessível, mesmo para alguém que não está habituado a ler e interpretar poesia (eu). fascina-me como é que 100 anos depois, temas como a solidão, desamores, a validação social e problemas de comunicação, continuam a assombrar-nos com a mesma intensidade.
uma mente fora da caixa, que se sentia incompreendido, sá carneiro espelha na sua obra as influências de oscar wilde e, apesar de póstumo, esta coleção lembrou-me bastante de <i>nausea</i> de jean paul sartre, com as sucessivas menções de paris e dos seus cafés, como pano de fundo para reflexões filosóficas sobre o nosso interior e a vida.
apesar de, no geral, a maioria destes poemas não ser memorável, repetindo demasiado as mesmas ideias, gostei desta introdução à sua poesia e não consigo deixar de recomendar, por ser um livro tão pequenino. deixo de seguido excertos do meu preferido <i>SERRADURA</i>: <blockquote><i>A minha vida sentou-se E não há quem a levante
E ei-la, a mona, lá está, <b>Estendida, a perna traçada, No infindável sofá Da minha Alma estofada.
Dentro de mim é um fardo Que não pesa, mas que maça: O zumbido dum moscardo, Ou comichão que não passa.</b>
Isto assim não pode ser... Mas como achar um remédio? - P'ra acabar este intermédio Lembrei-me de endoidecer:
<b>Vou deixá-la - decidido - No lavabo dum Café, Como um anel esquecido. É um fim mais raffiné.</b>
— SERRADURA</blockquote></i>
<b>a minha review de cada poema:</b> ─────── ☽ •
<i>1. DISPERSÃO — 1914</i><blockquote> Partida: 2/5 <b>Escavação</b>: 4/5 <b>Álcool</b>: 4/5 <b>Dispersão</b>: 4/5 Quase: 3.5/5 <b>Como eu não possuo</b>: 4/5 Rodopio: 3/5 A Queda: 3.5/5 </blockquote>
<i>2. INDÍCIOS DE OIRO — 1916</i>
<blockquote>Epígrafe: 3/5 Salomé: 2/5 Certa voz na noite, ruivamente: 2/5 7: 3.5/5 Vislumbre: 3/5 Anto: 2/5 A Inigualável: 2/5 Abrigo: 3/5 Cinco Horas: 3.5/5 <b>Serradura</b>: 5/5 O Lord: 2/5 <b>O Recreio</b>: 4/5 Pied-de-Nez: 3/5 </blockquote>
<i>3. OS ÚLTIMOS POEMAS DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO</i>
<b>excertos do meus poemas preferidos: </b> ─────── ☽ •
<i><blockquote>Quero reunir-me, e todo me dissipo - Luto, estrebucho... Em vão! Silvo p'ra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar... Tudo oscila e se abate como espuma... Um disco de oiro surge a voltear... Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei? Opio de inferno em vez de paraíso?... Que sortilégio a mim próprio lancei? Como é que em dor genial eu me eternizo?
— ÁLCOOL
Castrado de alma e sem saber fixar-me, Tarde a tarde na minha dor me afundo... Serei um emigrado doutro mundo Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
— COMO EU NÃO POSSUO
Não me pude vencer, mas posso-me esmagar, - Vencer às vezes é o mesmo que tombar - Tombei... E fico só esmagado sobre mim...
— A QUEDA
Nos cafés espero a vida Que nunca vem ter comigo: - Não me faz nenhum castigo, Que o tempo passa em corrida.
— CINCO HORAS
Na minha Alma há um balouço Que está sempre a balouçar - Balouço à beira dum poço, Bem difícil de montar...
- E um menino de bibe Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia, (E já vai estando esgarçada), Era uma vez a folia: Morre a criança afogada...
- Cá por mim não mudo a corda Seria grande estopada....
— O RECREIO
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se [entenda; E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem [certo estilo...
— Caranguejola
Gostava tanto de mexer na vida, De ser quem sou - mas de poder tocar-lhe... E não há forma: cada vez perdida Mais a destreza de saber pegar-lhe.